quarta-feira, julho 30, 2008
Fredegunda e os Merovíngios
sexta-feira, julho 25, 2008
5ªs à Noite nos Museus
segunda-feira, maio 26, 2008
Carbono 14
O filme era escandalosamente mau e deixei de o ver a partir do momento em que, a certa altura, observando umas barras de ouro, um dos protagonistas afirma tratar-se de ouro de 1800 e picos, facto comprovado através do teste do Carbono (a que se referiria?!). Mas que disparate mais grosseiro! Passou-me logo a preguiça e lá fui eu ...aos livros e à Internet.
O teste do Carbono-14, ou radiocarbono, é um dos mais conhecidos métodos de datação de restos orgânicos, de origem animal ou vegetal: quando um animal ou uma planta morre, o C14 que ele contém começa o seu processo de desintegração; medindo a radioactividade residual de um achado obter-se-á, portanto, o número aproximado de anos decorridos desde a morte do vegetal ou do animal de que provém.
"MÉTODO DO C14 OU RADIOCARBONO
Baseia-se na determinação da proporção entre o C14 e o total de carbono existente numa amostra (considerando-se um sistema fechado). A amplitude de datação coberta por este método é de 500 a 50.000 anos.
Existem 5 isótopos de C dos quais o mais comum é o C12. O C14 forma-se continuamente, de modo natural, nas partes elevadas da atmosfera (entre 15.000 e 20.000m de altitude) pela interação dos raios cósmicos com o N14. O C14 assim produzido passa a participar do óxido de carbono da atmosfera, sendo incorporado, no habitat terrestre, pelas plantas, através da fotossíntese e, finalmente, pelos animais, através da cadeia herbívoro-carnívora. Nos habitats aquáticos, dissolve-se nas águas, passando à composição das plantas e animais que ali vivem.
Com o correr do tempo, o C14 vai-se desintegrando, transformando-se novamente em N14. Considerando-se que: 1) a proporção C14/C12 conhecida da atmosfera manteve-se constante nos últimos 50.000 anos; 2) que essa proporção se distribui de maneira uniforme e 3) que após a morte dos organismos, a composição isotópica do carbono só se alterou por desintegração, basta medir a C14/C12 para se saber a idade do organismo.
O período da meia-vida do C14 ainda não está seguramente definido. Alguns autores como equivalente a 5.730 ± 40 anos e outros 5.570 ± 30 anos.
A proporção C14/C12 na atmosfera modificou-se a partir de 1950, por efeito das explosões nucleares. Desta maneira, a idade é fornecida com relação ao ano de 1950, com a abreviatura A.P. (antes do presente)"
sexta-feira, maio 02, 2008
Atelier Daynes: olhar quem fomos
domingo, abril 20, 2008
O Menino do Lapedo
A descoberta acabou por dar origem a um livro intitulado Portrait of the Artist as a Child: The Gravettian Human Skeleton from the Abrigo do Lagar Velho and its Archeological Context (publicação do IPA, exclusivamente em Inglês vá lá compreender-se o porquê) onde os seus autores, João Zilhão e Erik Trinkaus, apontam o "Menino do Lapedo" como o resultado de um possível processo de mestiçagem entre Sapiens e Neanderthalensis:
Será então ou não o Menino do Lapedo um "eco do passado"? A prova de que duas espécies do género Homo se cruzaram?
"Se na Europa, e numa escala menor no Médio Oriente, encontramos traços de uma coexistência dos dois homens, não existe em contrapartida nenhum resto fóssil a atestar com certeza que eles coabitaram. Os poucos fósseis de híbridos, como o da criança do Lagar Velho em Portugal, deixam perplexa a maior parte dos paleantropólogos porque a descoberta de uma sepultura conjunta seria mais convincente. Esta coabitação é posta em causa por um outro elemento de natureza geográfica: a população neandertalense está estimada em 10 mil indivíduos repartidos pela Europa Ocidental. Uma ocupação mínima mas sobretudo esparsa, bem como hipotética, que teria limitado os contactos com os Homo Sapiens. E se os contactos tiveram lugar, o seu carácter hostil, amigável e porque não sentimental continuam a ser um fascinante mistério." (Diane Grabmuller in revue Science est Vie, Hors-Série, nº235, Edition Trimestriel, Paris, Juin 2006, trad. Maeve)
domingo, abril 13, 2008
Duas informações úteis
2. Base de Dados Endovélico: para os que quiserem conhecer sítios arqueológicos nacionais, o Instituto Português de Arqueologia disponiliza no seu site o acesso à informação contida na sua base de dados, mediante pesquisa do utilizador.
IPA - Base de Dados Endovélico (ver no menu do site)
quinta-feira, abril 03, 2008
Revolução de 1383 - II
Já sabemos que em resposta ao apelo de Gomes Freire e Álvaro Pais, o povo acorreu ao Paço da Rainha para ajudar o Mestre de Avis. De ânimos acesos e julgando-se liberto de todas as amarras socio-económicas, a "arraia-miúda" comete excessos vários - mata o bispo da Sé porque este não mandara tocar os sinos a rebate; mata o prior de Guimarães que, por acaso também estava lá; mata o desprevenido tabelião de Silves que tivera o azar de chegar nesse dia a Lisboa; projecta roubar os judeus e os mouros.
No Paço, o Mestre tenta justificar-se perante Lenor Teles, pede-lhe perdão(não sem ter jantado antes, claro), que fez o que fez por uma questão de segurança da sua própria vida. A rainha é que não está pelos ajustes e parte para Alenquer, juntamente com uma boa parte da nobreza, de onde pedirá auxílio ao seu genro, o rei de Castela. Afonso Telo, um dos principais implicados no golpe, acompanha-a.
E agora? O Mestre de Avis não tem dúvidas - a vingança não tardará. Resolve fugir para Inglaterra. O povo cai em si e adivinha já as represálias que sofrerá. Prevê-se invasão castelhana...massacre. Nenhum dos envolvidos na trama e seus apoiantes se preocupa com o que poderá acontecer à plebe urbana: "O povo, que nascera para trabalhar, não podia fazer parte das suas preocupações. O melhor era, como aconselhava (a prudência), cada qual pensar na segurança de seus bens.", diz-nos Valentim Fernandes (1).
Álvaro Pais parte para Alenquer, na esperança de conseguir uma reconciliação com a rainha e é aqui que surge um pormenor interessante - propõem-se a Leonor Teles, a "aleivosa" no dizer do povo, que case com o Mestre de Avis. Pormenor interessante porque nos mostra que, a despeito do que de mal dela se pensava, não passava de um "joguete" em toda a trama política e era essa, sem sombra de dúvida, a posição da mulher nobre na Europa medieval - servir interesses políticos e patrimoniais (ambos interligados), por via do casamento. Leonor Teles rejeitou a proposta, mas não teve melhor sorte por causa disso, uma vez que terminou os seus dias enclausurada no Mosteiro de Tordesilhas, a mando do seu genro.
Entretanto em Lisboa, o Mestre de Avis é animado a não partir. Saliento aqui a intervenção de um certo emparedado, Frei João da Barroca, muito dado a profecias e que sob consulta terá vaticinado o trono ao futuro rei de Portugal. Enfim, lá fica marcada "assembleia" na Igreja do convento de S. Domingos (Rossio) onde "os homes dos mesteres, pobradores e moradores de Lisboa"(2) e inúmeros populares resolvem elevar o mestre à categoria de "Regedor e Defensor do Reino". A burguesia citadina, à cautela, ainda se tentou abster de tal decisão, mas acabou por a aceitar.
Agora sim, vão surgir as compensações para quem as merece (e não merece). O Mestre, que nesta altura não passava de um mero representante dos interesses ao trono do seu meio-irmão D. João (filho de D.Pedro I e Inês de Castro), retido em Castela, constitui um conselho formado por burgueses que viram assim atendidas as suas antigas reinvindicações de associação ao poder político. Por sua vez, o governo da cidade de Lisboa fica entregue aos mesteirais. Acerca destes últimos diz-nos Maria José Ferro: "A 1 de Abril de 1384, o Mestre de Avis privilegia os naturais de Lisboa, numa carta que não se contenta com o formulário usual de confirmação de privilégios anteriormente outorgados, mas que é, sobretudo, uma resposta a possíveis reinvindicações do povo miúdo.(...) É nele, segundo a nossa opinião, que está patente a grande vitória que o povo miúdo dos mestres obteve com a sua acção em 1383-85:
- uma participação activa na vida do município;
- uma colaboração, por intermédio de representantes seus, no conselho régio;
- e a inversão dos privilegiados no pagamento de impostos, o qual seria distribuído em função da riqueza de cada um donde a isenção dos menos ricos (o que me faz isto lembrar?!)".(3)
A estas disposições se acrescenta que em 1385, todas as pretensões dos mesteirais foram deferidas por D. João I.
(1) Lisboa. A Força da Revolução (1383-1385), Col.Horizonte Histórico, nº7, Livros Horizonte, Lisboa, 1985
(2) Fernão Lopes, Crónica de D. João I
(3) "A Revolta dos Mesteirais de 1383" in Actas das III Jornadas Arqueológicas de 1977, Vol.I, Associação dos Arqueólogos Portugueses, Lisboa, 1978, pp.367-368
sexta-feira, março 28, 2008
Museu de Odrinhas
Instalado no local onde outrora existiu uma villa romana e de que restam ainda algumas estruturas, possui um interior "moderno", agradável, onde o espólio está bem organizado. A visita é guiada, com simpatia e com a preocupação de esclarecer as dúvidas dos visitantes. Num espaço exterior, anexo ao museu, encontra-se o único cemitério de cariz medieval escavado em Portugal. Próximo, também, é possível observar os "Menires da Barreira", um conjunto megalítico datado de cerca de 3000 a.C.
quarta-feira, março 19, 2008
A revolução de 1383 - I
(continua)
(1)(2)(3) Fernão Lopes, Crónica de D. João I, Cap. XI
segunda-feira, março 17, 2008
Lisboa Medieval: apontamentos
Quando em 1147 D. Afonso Henriques conquistou a cidade, supõem-se que esta teria já entre 12 a 15 mil habitantes. Para além do casario intra-muros (Cerca Velha ou Moura), existiria já um populoso bairro em parte do vale da Baixa, fundado sobre a acumulação de sedimentos e assoreamento do esteiro do Tejo(2).
D. Afonso III foi o primeiro rei que estabeleceu corte em Lisboa, elevando-a a capital do reino e iniciando, assim, um período de mais rápido desenvolvimento. Se algumas cidades do nosso país ficaram a dever o seu crescimento e a sua prosperidade ao comércio externo, principalmente marítimo, Lisboa foi uma delas. A sua importância comercial era evidente devido à tradição do seu comércio muçulmano e ao seu bom porto. Quando nos fins do séc. XIII, os italianos iniciaram as suas viagens para a Flandres, através do estreito de Gibraltar, estabeleceram-se nalguns portos portugueses, sobretudo em Lisboa. A cidade tornou-se, então, um activo centro de comércio.
A partir de meados do séc. XIV, o crescimento da cidade acentuou-se devido à forte imigração de centenas ou milhares de pessoas oriundas de todo o Reino. Esse crescimento foi de tal forma que D.Fernando (1345-1383) resolveu proceder a novo amuralhamento - as novas muralhas levaram 2 anos a construir e fechavam uma área de 103 hectares; as suas portas principais eram as de Santa Catarina (ao actual Largo das Duas Igrejas), São Roque (largo de Trindade Coelho); postigo do Duque, Portas de Santo Antão (aproximadamente onde é hoje a Casa do Alentejo), da Mouraria, de Santo André e da Cruz, correndo a muralha, na margem, até ao Corpo Santo.
À semelhança de outros burgos em condições semelhantes, surgiram espaços comerciais - mercados e feiras -, alguns dos quais nas imediações das portas da muralha. Um desses espaços era o "rossio"(3), próximo da porta de Santo Antão. Outros nós vitais eram as praias e os terrenos junto ao rio que, no tempo de D. Fernando, conheciam um muito concorrido mercado - a Ribeira Velha (designação posterior) - que se estendia do Campo das Cebolas à Rua do Cais de Santarém.
Ainda no séc. XIV, surgiu uma rua dedicada ao comércio retalhista, que se converteu no verdadeiro coração da cidade - a Rua Nova. Ali residiam os ricos burgueses, se abriam as tendas mais ricas e requintadas e se realizavam feiras e festividades. Esta rua ia da esquina da actual Rua do Ouro para a de S. Julião, descaindo para a margem, até ao ponto onde a Rua dos Fanqueiros(4) entronca com a Rua do Comércio.
Os mouros e os judeus possuiam locais próprios para residir - a "aljama" e as judiarias (5), frequentemente próximas das áreas de mais intenso movimento mercantil.
Perto a "aljama" situavam-se as casas nobres da cidade, como sejam o "Paço da Rainha" na Rua do Limoeiro (Leonor Teles), próximo da Sé, e supostamente a casa onde D. João I terá nascido.
Toda a zona da Baixa assemelhava-se muito a Alfama e a actual Praça do Comércio estava alagada. Entre a Praça do Comércio e o Cais do Sodré, seriam os estaleiros navais de D. Fernando.
Não existem, segundo sei, visitas organizadas pela Câmara Municipal de Lisboa ou pelo Museu da Cidade que cumpram um trajecto que nos leve a conhecer a cidade como ela era antes de 1755. O SPGL (Sindicato dos Professores da Grande Lisboa) organiza uma ou outra de tempos a tempos e os não sócios podem inscrever-se...mas não é por aí que vamos lá. As iniciativas nesse sentido partem de escolas, professores e alunos, exigindo muita pesquisa. O Museu da Cidade é um bom ponto de partida dado que possui informação sobre a Lisboa Medieval e talvez, neste momento, esteja capaz de fornecer um percurso pedreste. Deixo aqui alguns links úteis:
(1)O castelo de S.Jorge sofreu estragos na sequência dos terramotos de 1531, 1551, 1597 e 1699.
(2) O assoreamento do Tejo tem provocado, ao longo dos séculos alterações significativas nas zonas ribeirinhas da cidade de Lisboa. Crê-se que, ainda no séc. XI, um braço do Tejo alagava toda a zona da Baixa até ao Rossio, onde desaguavam dois cursos de água. Um desses cursos de água - o rio de Valverde - percorria o vale onde viria a ser rasgada a Avenida da Liberdade. A documentação da época (séc.XII) faz referência às "hortas de Valverde" que abasteciam a cidade.
(3) Designação atribuída, segundo Oliveira Marques, a um baldio.
(4) A toponímia chama-nos a atenção para os nomes de algumas ruas de Lisboa, reveladoras dos mesteres - fanqueiros, bacalhoeiros, correeiros. Sabe-se que já no séc.XIV os mesteirais tinham ruas próprias.